quinta-feira, 21 de maio de 2015

O Cacau Caiu 3/3 - Uma Metrópole Colonial em Estado de Alerta


Desabamentos, Deslizamentos e Outras Tragédias Urbanas

Testemunhos Documentais de uma Metrópole Colonial em Estado de Alerta

por Prof. Jan Maurício van Holthe

“(...) a água e o fogo eram ameaças constantes à vida de todos os baianos. Ricos ou pobres, grandes ou pequenas, as moradias eram frágeis e expostas às ciladas armadas pela promiscuidade e a instabilidade do clima e do solo”. (MATTOSO, 1992, p.449)

A cidade de Salvador, em função de sua topografia acidentada, das características do solo e das práticas construtivas arriscadas adotadas por uma parcela dos moradores que, desde tempos imemoriais, promoviam construções irregulares em áreas densamente povoadas e sob grande risco de desabamentos, possui um longo histórico de pequenas e grandes tragédias coincidindo com períodos de intensas chuvas ou prolongados invernos.

A consulta a fontes primárias do período colonial e imperial da antiga capital baiana, refletindo esta infeliz realidade, fornecem testemunhos valiosos desses eventos trágicos, invariavelmente resultando em perda de vidas humanas ou grandes prejuízos materiais. Além dos incêndios[1], comuns em residências dependentes de fornos a lenha e iluminação precária, à base de velas e candeeiros, serão principalmente os desabamentos e deslizamentos de terra as principais ameaças aos moradores, especialmente aqueles residentes na Cidade Baixa - zona portuária e comercial de Salvador por excelência, densamente ocupada em função do pouco espaço existente entre a encosta da cidade e o mar - e os proprietários de edificações erguidas no cume da montanha. E na origem da maioria desses deslizamentos e desabamentos, teremos basicamente as fortes chuvas, tão comuns na cidade, como principal agente deflagrador dos nefastos incidentes.

Com um clima tropical predominantemente quente e úmido e um índice pluviométrico anual histórico beirando os 2.000 ml[2], é natural que a água – muito mais do que o fogo – represente, portanto, a principal ameaça às edificações em uma cidade como Salvador. A água e todos os problemas decorrentes de sua abundância: a perda da coesão do solo argiloso das encostas[3]; sulcos e fendas resultantes da erosão dos terrenos em declive pela descida veloz de grossos veios d’água[4] que surgem a cada enxurrada[5], expondo perigosamente os alicerces das pesadas edificações; as poças estagnadas que contribuem para a proliferação de doenças em uma cidade tantas vezes assolada por epidemias etc. Enfim, vários são os perigos representados pelas fortes chuvas, invariavelmente concentradas nos meses de inverno.

O ano de 1795, por exemplo, conforme registram os Termos de Alinhamentos e Vistorias da Câmara do Senado[6], seria marcado por um grave episódio ocorrido no mês de abril, ocasião em que várias casas localizadas no cume da montanha, próximo ao denominado “Caminho Novo”, são arruinadas em decorrência de fortes chuvas, soterrando ao mesmo tempo outras edificações no bairro da Praia, na Cidade Baixa. Os sinais premonitórios da tragédia, contudo, já podiam ser detectados dias antes. Em 13 de abril, os vereadores, a requerimento de um grupo de moradores da “Praya e caminho novo sobre o forte de S. Francisco”, em função do “notável prejuízo que sentião as ditas suas propriedades”, já haviam realizado uma vistoria[7] nos

(...) acrescimos que tinhão havido nos quintaes superiores, e cazinhas e muros como se via em varias, alem dos muros arruinados que com o invernozo tempo tinha despegado da montanha quantidade imensa de entulho (...) de que com o pezo algumas delas paredes interiores tinhão gemido e rachado.

E assim, apenas oito dias após essa inspeção, no dia 21 de abril, em decorrência de um período de intensas chuvas, várias propriedades da encosta são arruinadas[8]; outras, na Cidade Baixa, são inteiramente soterradas. Logo em seguida, por ordem do Governador Geral, os vereadores, acompanhados de grande comitiva composta de engenheiros, mestres pedreiro e carpinteiro etc., promoveram um rigoroso exame em todas as edificações “que tinhão escapado ao estrago (...) das propriedades cahidas e destruhidas”. Em cada propriedade vistoriada, uma série de medidas foi imposta aos “senhorios”, com prazo determinado para serem tomadas, sob pena de severas multas e mais alguns dias de prisão. São exemplos dessas providências, todas extraídas de uma vistoria[9] realizada em 22 de abril no “Sítio da Cruz do Pascoal” em decorrência do referido decreto governamental:

Na caza deque he Senhorio Jozé Rodrigues Lopes unanimemente se assentou que devia com a mayor brevidade concertar todos os Sucalcos que sustinhão as terras do seu quintal como tambem metter pez direitos novos para sustentarem a varanda da caza, e que demolise um tanque que tem sem uso, e cortar grande copado das arvores que tem plantadas sobre os mesmos Sucalcos, aliviando assim o grande pezo que deita para a parte opposta a montanha (...). Na caza deque he Senhoria a Religião do Desterro se assentou que na frente [e] fundo da dita Caza em toda a sua extenção devia fazer alicerce para a segurar por se achar sobre a superficia da terra. Na caza da Religião de São Bento se assentou que deve escorar a caza pela parte de detraz, e desmanchar a parede que se acha em metade muito arruynada como tambem o vigame (...) por ter algumas vigas já partidas. Na caza deque he Senhorio Jozé Alz’ Coelho se assentou que devia desmanchar o cano e todos os muros e escorar a sacada pela parte de detraz para concertar toda a parede que se acha arruynada deixando ficar ilezo o Sucalco que sustenta as terras da mesma Caza. Na caza de que hé Senhorio o Convento do Carmo se assentou que demolisse a parede do fundo, e levantase outra de novo, e o mesmo practicase na caza contigua do dito Convento. (...) O que sendo visto e Ouvido pela Vereação mandou aos Sobreditos Senhorios e seus Procuradores que logo incontinente assim se observase debaixo da pena de proceder a Rigoroza prizão e execução se assim o não cumprissem (...).

Dois anos e três meses após este incidente[10], em atenção a uma “Portaria do Senhor Governador”, os peritos ainda mantinham uma estreita vigilância sobre dezenas de edificações erguidas na Ladeira da Misericórdia e seus arredores, obrigando novamente os proprietários a uma série de demolições emergenciais em nome da segurança:

(...) Em caza de D. Anna Quiteria Cardoza da parte do mar; se assentou que devia desmanchar todos os Sucal[cos] (...) e demollir os pilares ultimos, que serve de apoio a cozinha. (...) Na caza do Recolhimento de São Raimundo: demollir o pillar da parte do Sul e Sacadas. Na caza de que hé Senhorio Jozé Simoens Coimbra cortar as Sacadas e o telhado a proporção da mesma. Nas cazas de Sobrado do Mosteiro de São Bento cortar as duas Sacadas e destruhir a parede da impena da parte do norte athe o asualho. Na caza de Sobrado da Santa Caza reformar o sucalco e destruhir as tres varandas. Na caza de defronte da mesma Santa Caza da parte de terra desmanxar a entrada da porta da parte de sima para a reedificar e desembaraçar o Conducto que hé o motivo da sua Ruyna. Na caza ou Ruynas de que são herdeiros Jozé Teixeira, e Manoel Rabelo desmanchar o paredam que se acha todo arruinado, e o mesmo nas cazas de que he Senhoria Dona Brittes d[e] Almeida. Na caza (...) do Mosteiro de São Bento reformar o Sucalco e desfazer a varanda (...).

Outros pesquisadores, em datas posteriores, também registraram eventos semelhantes:

Junho e julho de 1813, por exemplo, foram terríveis: 45 dias de chuvas ininterruptas provocaram desmoronamentos em toda a face da cidade voltada para o mar. (...) Em oito dias, uma parte inteira da Cidade Alta desabou sobre a Cidade Baixa. (...) Quinze dias depois, novos deslizamentos de terra, desta vez nas proximidades do forte de Santo Antônio. (...) Trinta anos depois, em 1843, na estação das chuvas, novamente os solos começaram a se mexer (...) e novas mortes e destruições ocorreram. (MATTOSO, 1992, p. 449-450).

O clima quente e úmido, por outro lado, também favorecia outra prática comum em Salvador: a produção doméstica. De fato, hortas e pomares eram facilmente encontrados em quase toda a cidade. Rara era a casa que não tinha o seu quintal e raro era o quintal que não tinha a sua pequena produção de subsistência: hortaliças, ervas medicinais[11], um modesto galinheiro[12], árvores frutíferas de fácil manejo: laranjeiras, coqueiros e bananeiras, por exemplo, são frequentemente mencionadas em relatos de antigos viajantes estrangeiros à Bahia oitocentista[13].

(...) e esta é uma das armadilhas da natureza – as terras onde foi edificada a cidade de Salvador são boas para hortas e pomares, mas não são recomendáveis para a construção. Até o declive mais íngreme, o do reverso da falha, desce em pequenos degraus para a praia ou dirige-se para o norte, alcançando os terrenos sedimentários e oferecendo, aos bananais e às culturas de árvores frutíferas, uma exposição magnífica ao sol nascente. (MATTOSO, 1992, p. 46)

Essa prática, contudo, também acabou contribuindo para aumentar os riscos de desabamentos e deslizamentos na cidade por uma série de motivos. Em primeiro lugar, a plantação de bananeiras, em especial, mostrou-se particularmente nociva, na medida em que as raízes curtas dessas árvores não conseguiam fixar o solo e com isso, durante episódios de fortes chuvas, aumentavam os riscos de acidentes[14]. O cultivo da bananeira nas encostas, portanto, a partir do século XIX, naturalmente passou a ser coibido pelas autoridades municipais. Em Portaria de 13 de abril de 1831[15], por exemplo, ordenava o Senado da Câmara ao Alcaide para notificar a Antônio Coelho Fragoso “para demolir as cercas, e arrancar as Bananeiras que tem no seu Quintal fronteiro ao Trapiche do Barnabé”:

O Alcaide vá quanto antes demolir as Cercas, e arrancar as Bananeiras do quintal de Antônio Coelho Fragoso, que é fronteiro ao Trapiche do Barnabé, onde já infelizmente corre terra da montanha, e causam grandes estragos à Cidade Baixa.

Por outro lado, para ampliar a área dos quintais – e com isso assegurar um maior aproveitamento do terreno, especialmente daqueles localizados em locais de grande declividade -, alguns moradores recorriam à construção de terraços, erguendo grossos – e pesados – muros “de sucalco” em sucessão, expondo os moradores das zonas mais baixas a novos perigos, tanto em função da má construção de muitas dessas alvenarias de pedra e cal quanto pelo acúmulo indevido de água em alguns dos tabuleiros formados, aumentando perigosamente o peso da terra sobre a encosta. Ainda como exemplo dos prenúncios do trágico evento ocorrido em 21 abril de 1795, temos o registro do pedido de vistoria[16] encaminhado ao Senado da Câmara por Paulino da Silva Lisboa no dia 18 daquele mesmo mês,

(...) em que declarava ter no dia onze do corrente, recebido um Concideravel prejuizo, em toda a fabrica e Caza do seu Alambique, e cozinha da caza imediata, por ter cahido toda a dita Caza de Alambique, submergindo quatro escravos que evidentemente fabricavão, alem de outra q’. mizeravelmente escapou, e se acha em grande perigo de vida, restando desta grande Ruina unicamente as paredes da frente, procedendo todo este estrago das muitas aguas que vinhão das terras da sobredita Rossa, que fica na eminencia e se percipitão [sic] pelas Rebanceiras das propriedades, por haver incanado em diversos taboleiros; esendo ahi adita Vereação e sobreditos Engenheiro e peritos: dicerão que se observava na terra suprior [sic] ao dito Alambique, terra esta dismontada em trez tabolleiros, afim de formozear e fazer plana adita terra, de onde procedeo quebrar esta no ultimo tabolleiro, e hir afazer o estrago no dito Alambique (...).

Os “tabuleiros” erguidos nas encostas, portanto, vão continuar sob a mira das autoridades em diversas vistorias posteriores, à medida que continuam a provocar estragos em propriedades públicas e particulares. É o que vamos testemunhar, por exemplo, no relato da vistoria[17] de oito de março de 1809, realizada nos “sucalcos” do quintal de Thomé Alvares Braga, que, dividido em três sucessivos níveis, situava-se logo acima da Rua do Pilar:

Aos oito de Março de mil, oito centos e nove annos nesta Cidade da Bahia, e Rua d[a] Cruz do Pascoal no quintal de Thomé Alz.’ Braga se achou a Vereação actual commigo, e os Medidores do Concelho a Requerimento de Miguel José Bernardino para effeito de se examinar a Ruina, que ameaça os Sucalcos do dito quintal, q’ fasem frente a Rua direita do Pillar; o que examinado se assentou, que as agoas com effeito havião cauzado a Ruina nos ultimos Sucalcos do fundo, e que continuando facilmente se arruina a montanha com irreparavel prejuizo do Supplicante, e mais moradores da dita Rua do Pillar: a vista do que determinarão, que o dito Thomé Alz.’ Braga seja obrigado a demolir incontinente os Canos que tem no Sucalco superior, e no termo de trinta dias fazer Reparar os dois Sucalcos inferiores, fortallecendo-os de sorte, que sem perigo da queda da montanha deção as agoas espraiadas, evitando por este modo a ruina, que ameaça, à pena de se mandar fazer à custa do dito Thomé Alz.’ por Ordem deste Senado (...).

Mesmo quando os muros eram menos robustos, servindo apenas para preservar os moradores dos olhares indiscretos dos vizinhos ou para a segurança de sua propriedade, ainda representavam uma ameaça e motivo de preocupações justificadas quando erguidos muito próximos do cume da montanha ou diretamente sobre o solo escarpado. Em 1812[18], por exemplo, enquanto estava sendo construída uma muralha de contenção na “Ladeira do Caminho Novo”, parte do muro do quintal do “Reverendo Deão desta cidade” desabou inesperadamente sobre a importante obra pública, levando os vereadores a decidir que o proprietário “deveria demolir o resto do muro, logo que o tempo permitisse, e que no lugar de muro de pedra e cal, que a localidade não permitia, fechasse seu quintal com estaca de pau”.

Contudo, não eram apenas os muros dos quintais ou paredões dos tabuleiros que rolavam encosta abaixo, para desespero dos moradores e comerciantes da Cidade Baixa: às vezes cômodos inteiros, especialmente cozinhas externas[19] e varandas, desabavam sobre eles, com severas consequências. Na relação das providências urgentes a serem tomadas pelos moradores das casas vistoriadas após os trágicos eventos de abril de 1795[20], encontramos, dentre outras, a ordem para que “na casa de que é Senhoria D. Anna Francisca das Mercez”, fosse logo desmanchado “o fogão que se acha despegado com Ruina eminente”, bem como assentou-se que na “casa de que é Senhorio Antonio Garcia da Roza”, fosse demolida “a mesma casinha que tem no fundo do Quintal; como tambem os muros lateraes, e o muro ou sucalco que serve de sustentar a terra cortando-o em escarpa pela metade da sua altura”. Em vistoria[21] de 13 de fevereiro de 1796 realizada na “Rua do Caminho novo a sahir ao forte de Sam Francisco a Praya desta Cidade”, continuando-se na

(...) deligencia e exame nas Ruynas da Caza da Irmandade do Rozario da Baixa dos Sapateiros que ficam unidas a caza de Felipe Manoel de Almeida, se assentou q.’ logo lancassem abaixo o resto do telhado da cozinha que existia, e que cortasem a forma de escarpa as paredes de um e outro lado por se achar ate o assoalho desaplumada, cauzando mais Ruyna as sobreditas cazas contiguas, e para o proximo Inverno de prejuizo ao Publico que por ali tranzitar (...).

Em função disso, as autoridades, naturalmente, procuravam restringir – nem sempre com sucesso - a construção de sobrados nas encostas, receosas do excesso de peso aplicado sobre o cume da montanha. Em 29 de outubro de 1827, por exemplo, durante a vistoria ex officio[22] realizada na casa de João Antônio Ribeiro situada na Rua direita de Santo Antônio além do Carmo[23], o “Medidor do Conselho Pedro Ferreira dos Santos” descobriu uma série de irregularidades na obra, relatando

(...) achar não estar a mesma obra conforme a determinação do mesmo termo, que apenas lhe concedera se edificar a Casa térrea que já tinha, uma água furtada sobre essa em frente da Rua com direção até a parede central da Sala da mesma casa térrea, e como tivesse excedido, e tivesse edificado um sobrado até a terça parte do comprimento da Casa em contravenção à mesma licença que o tivera no ato da sobredita Vistoria, e tendo a Vereação em consideração os Acordãos deste Senado solenemente tomado com assistência dos Peritos e Engenheiros por ocasião dos desastrosos acontecimentos do mês de Junho de 1812, e principalmente do Livro 24 (...) no qual expressamente se recomenda que se não possa edificar no vértice da Montanha senão Casas térreas como medida indispensável para segurança pública, e conformando outrossim com as Posturas do Senado e Leis Municipais a este respeito, e (...) com que o mesmo continuou na edificação da obra, assentarão unanimemente, que reduzisse a Casa térrea que (...) dantes tinha, ficando sem efeito a licença concedida pelo dito termo de Vistoria de oito de Novembro de mil oitocentos e vinte seis (...).

E, curiosamente, nem mesmo as obras públicas dos inúmeros paredões construídos na montanha para dar maior segurança aos moradores estavam isentas de provocar acidentes. De fato, encontra-se no Arquivo Público do Estado (APEB) um interessante requerimento[24] endereçado ao Presidente da Província, escrito em janeiro de 1847, no qual “D. Gertrudes Izidra de Campos Souza” reclamava das obras de “rebaixo da montanha” informando que

(...) tem os trabalhadores d’aquele lugar feito o maior dos prejuízos (...), lançando grandes pedras, que rolam da montanha (...), de maneira que uma delas deu com a porta da Cozinha a dentro, maltratando a uma sua escrava, e quebrando tudo que alcançou (...)

Por fim, não menos ameaçadores à segurança pública eram as poças de água estagnada, especialmente quando misturada com lixo e toda espécie de “imundícies”[25] nas zonas mais baixas da cidade, fonte de inúmeras doenças[26]:

Aos vinte e trez de Maio de mil e oito centos annos nesta Cidade da Bahia e lugar das Tulhas onde foi vinda a Vereação (...) a Requerimento dos moradores daquelle lugar para effeito de proceder a exame na cauza da inundação d’agoa que sofrião as Propriedades com risco de grande prejuizo dellas pela falta de suficiente tranzito das agoas que vem da ladeira da Conceipcão, e procedendo o Senado na Vistoria, e dito exame achou, que em razão de se ter feito hum muro defronte das ditas cazas, e das mesmas Tulhas para armazem de Madeiras do Arsenal, e se deixar tam somente huma grade no dito muro ao nivel do terreno para tranzito das agoas, que vem da ladeira da Conceipcão demorão-se as mesmas agoas, e ficão extagnadas na baixa, desorte que, cauzão prejuizo as Propriedades que ficão paralelas ao dito muro por não haver a expedição suficiente (...). (Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800: fl.237v)

Numa época em que ainda se recorria à à teoria dos miasmas[27] para explicar a origem de grande parte das doenças que afligia o ser humano, era natural que qualquer “vapor” malcheiroso ou “infecionado” nas vizinhanças de suas propriedades assustasse os moradores de Salvador, conforme revela o conteúdo da vistoria[28] realizada no final de janeiro de 1803 nos “Estaleiros da Preguiça” e “Praia” da cidade:

Aos trinta ehum deJaneiro de mil, oito centos e trez annos nesta Cidade da [Ba]hia, e sitio do Estaleiro da Preguiça e Rua da Louça, onde foi vinda aVereação (...) a Requerimento dos Proprietarios das Cazas ahi situadas, para effeito de se examinar o estado em que se achava a Sobredita Rua, pelo prejuizo, que cauzava não só a aquelles habitadores, mas aos de toda a Vizinhança, pelos infecionados vapores, que se elevão da imundice estagnada por falta de de[sa]guadoiro; e procedendo no dito exame acharão que na Rua da Louça da parte de terra havia [h]um entulho, que impossibilitava o seu tranzito, e fazia in[h]abitaveis as Cazas ahi situadas, fazendo deformidade concideravel; e na mesma Rua da parte do mar acharão, que o entulho, que ali setinha acumulado, proveniente das agoas, que deccorrião da Ladeira da Conceipção, se tinha elevado em hum sitio dois palmos, em outro trez, e trez e meio; de sorte, que a Rua ficava muito superior aos baixos das mesmas Cazas (...).

Tendo em vista a gravidade dos problemas expostos nas fontes documentais, seria lógico supor que, diante das constantes ameaças à cidade, as autoridades municipais, encarregadas de zelar pela segurança dos moradores e suas propriedades, não hesitassem em promover uma série de medidas preventivas e impusessem com rigor um conjunto de normas que coibissem as irregularidades ou práticas nocivas dos moradores das zonas urbanas mais populosas, especialmente em áreas de terrenos acidentados:s:

Aos dezaseis de Março de mil sette centos e noventa e sette annos nesta Cidade da Bahia e (...) Ladeira que desce da Praça a Praya desta cidade, onde foi vinda a Vereaçam que noprezente serve, com migo Escrivam (...) e os Medidores e Mestres Pedreiros abaixo assignados, a Requerimento do Povo e moradores da Cidade Baixa pela eminente Ruina em que se achava a Montanha que pega da Igreja velha de S. Pedro dos Clerigos, a terminar os Mirantes e Dormitorios da Igreja dos Extintos Jezuitas, que toda se acha despegada, e de si lansando quantidade de terra que tem intulhado por infinitas vezes as Propriedades que ficam em frente alem de se acharem no risco de que com maior impurram se vejam destruhidas e lançadas por terra por se achar a mesma Montanha abalada, e com grandes cavaçoens procedidas das aguas que em si tem recebido que com o pezo della vai diariamente aluindo as mesmas Propriedades, e sendo ahi a dita vereação com os referidos Mestres (...) declararam estar em grande pirigo aquella montanha e que se fazia necessario não só para segurança da mesma montanha que estava proxima a desmontarse sobre as propriedades o que ficava eminente fazerse logo um paredam da grosura proporcionada ao alicerce que sencontrase, principiando do muro que vem da fonte do Pereira a findar no que se acha escorado a subir para a mesma Ladeira da Mizericordia (...). (Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.174r)

E de fato, ainda que com certo atraso, as posturas municipais, aos poucos, iam sendo formuladas. Em 25 de fevereiro de 1831, por exemplo, várias posturas[29] foram assinadas ao mesmo tempo pelo Senado da Câmara expondo claramente as condutas consideradas impróprias pelas autoridades. Merecem destaque, por exemplo, posturas como a de número 30 - “Nenhuma pessoa poderá conservar imundos, ou com águas estagnadas, e corruptas, os quintais e pátios de suas casas. Pena de 8$000, ou oito dias de prisão” - e, particularmente, a de número 54[30]:

Ninguém poderá escavar, arrancar árvore, ou tirar pedra desde a falda da montanha da Cidade no espaço compreendido do Unhão ao Noviciado: pena de 30$000 e oito dias de prisão. A Câmara proíbe expressamente, debaixo das mesmas penas, que se edifiquem sobrados no cume da montanha na extensão mencionada.

Infelizmente, no entanto, os antigos documentos – e seus escribas – não estão preocupados em explicar o motivo da insistência dos moradores em descumprir as normas ou em adotar com frequência práticas construtivas tão arriscadas. Podemos apenas imaginar que a necessidade falasse mais alto que a segurança; ou seja, que a falta de espaço para a zona de serviço das casas, para a pequena produção de subsistência, para a ampliação das edificações espremidas em lotes estreitos e compridos etc., acabasse prevalecendo sobre o medo de ver tudo desabar na primeira enxurrada. O fato é que, por muito tempo ainda,

(...) sempre presente e sempre constante foi, na cidade do Salvador a preocupação com o deslizamento de terras na montanha. Um inverno mais forte, uma chuva mais prolongada e, da Conceição ao Pilar, havia as vítimas de soterramentos. Na Rua Direita do Palácio, no Paço, em Santo Antônio além do Carmo, uma cozinha ou um “quartinho”, uma sala de fundo, sem raridade, despencava ribanceira abaixo. (TEIXEIRA, 1986, p.81).

REFERÊNCIAS

Fontes impressas

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Tombo dos Bens das Ordens Terceiras, Confrarias e Irmandades da Cidade do Salvador Instituído em 1853. Bahia: Imprensa Oficial, 1948.

CÂMARA MUNICIPAL DE SALVADOR. Actas da Câmara: 1765-1775. Salvador: Câmara Municipal, Fundação Gregório de Mattos, 2010.

MATTOSO, Kátia de Queirós. Bahia, século XIX: uma província no império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira. Dez Freguesias da Cidade de Salvador. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1986.

PORTUGAL, Luis de Almeida, Marquês do Lavradio. Cartas da Bahia: 1768-1769. Brasília: Ministério da Justiça; Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1972.

SPIX, Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820 por Spix e Martius. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: INL, 1976.

TEIXEIRA. Cid. Bahia em Tempo de Província. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1986.

VERHUELL, Q. M. R. Minha Primeira Viagem Marítima: 1807-1810. Salvador: Edufba, 2009.

VIANNA, Hildegardes. Antigamente era assim. Rio de Janeiro: Record; Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1994.

Fontes em meio digital

BATTISTELA, Carlos. Saúde, doença e cuidado: complexidade teórica e necessidade histórica. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2014.

Fontes manuscritas - Arquivo Histórico Municipal de Salvador (AMS)

Portarias: 1817 a 1831.

Posturas: 1829 a 1859.

Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800 / 1800-1812 / 1817-1827 / 1837-1841.

Fontes manuscritas - Arquivo Púbico do Estado da Bahia (APEB)

Seção de Arquivo Colonial e Provincial – Presidência da Província – Tesouraria – Propriedades Urbanas (1826-1874) – Série 4651.


[1] “Em junho de 1833, (...) o fogo grassou por toda a parte da paróquia da Sé situada atrás da catedral (...). Em 1837, durante a Sabinada, (...) bairros inteiros foram destruídos. Em 3 de novembro de 1848, o fogo irrompeu na Cidade Baixa, ameaçando o prédio da Alfândega (...). No ano seguinte, as chamas devoraram os trapiches da Quarta Prensa, próximos da igreja do Pilar; em 1850, outro galpão do porto, com dois mil caixotes de açúcar que armazenava. Em 1856, mais dois entrepostos, o Quirino e o Pilar; em 1857 mais um. Em 1859, foi o prédio do Banco do Brasil que pegou fogo, mas dessa vez uma ação rápida e bem coordenada permitiu salvar a maior parte dos papéis e valores. (...) Em 1876, ocorreram pelo menos sete incêndios de grandes proporções na Cidade Alta e na Cidade Baixa, e os números não decresceram muito nos anos seguintes. O fogo ameaçava sobretudo as zonas comerciais da cidade, mais vulneráveis por causa da multidão que entupia as ruas estreitas”. (MATTOSO, 1992, p.450-51).

[2] Secretaria do Meio-Ambiente do Estado da Bahia. Indicadores Ambientais – índice Pluviométrico. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2014.

[3] Nas palavras de Kátia de Queirós Mattoso, o solo das encostas de Salvador era composto de uma “argila margosa, escorregadia” (MATTOSO, 1992, p.46).

[4] “(...) Que a cauza da absoluta deste [ef]feito, proce[dia] da exorbitante força com que as agoas das chuvas descião por aquella pozição, fazendo desligar, e desunir a adherencia dos principios constituintes daquellas partes (...)”. (Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.209r)

[5] “Aos onze dias do mez de Março de mil, settecentos, noventa e nove annos, nesta Cidade da Bahia, e Rua, que vai para a Portaria de São Francisco, onde foi vinda a Vereação, que no prezente serve, com migo Escrivão ao diante nomeado, os Medidores do Concelho, e Mestres Pedreiros para examinarem o Cano chamado de João de Freitas, q.’ se entopia, e fazia, a força d’agua da enxurrada, e entulhos, que os moradores deitavão, huma Ruina irreparavel nas Propriedades vizinhas (...)” (Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.205r).

[6] Coleção de documentos do Arquivo Histórico Municipal de Salvador (AMS) que abrange um recorte temporal bastante expressivo: 1724 a 1891.

[7] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.140r.

[8] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.142v a fl.147r.

[9] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.145r e fl.145v.

[10] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.179v.

[11] APEB, 1948, p.69.

[12] VIANNA, 1994, p.112.

[13] “O mais bonito adorno dessa extensa casaria são os muitos jardins, situados de permeio, que embora raramente tratados, conservam todavia, o ano inteiro, o verde viçoso de suas laranjeiras e bananeiras” (SPIX, 1976, p.131). Ou ainda: “Na medida em que navegávamos para o interior, a impressão que aquela soberba região nos causava ficava ainda mais forte. Em um morro bastante elevado e com muitas árvores – dentre as quais as bananeiras, que logo atraíram a minha atenção com as suas folhas largas – situava-se o convento de Santo Antônio da Barra, caiado de branco e com duas torres pontudas”. (VERHUELL, 2009, p.121).

[14] SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Deslizamentos. Disponível em: . Acesso em 07 dez. 2014.

[15] Portarias: 1817-1831. AMS, manuscrito, 122r.

[16] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.142r.

[17] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1800-1812. AMS, manuscrito, fl.194v.

[18] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1800-1812. AMS, manuscrito, fl.281r.

[19] Em vistoria realizada em julho de 1820 na residência que Anna Mathilde Lopes possuía na Rua Direita de Santo Antônio além do Carmo, ao avaliarem a concessão da licença solicitada pela requerente para “fazer nova frente de casa térrea, e demolir a que tem para novo prospecto”, os peritos descobriram que em uma das casas vizinhas, pertencente à Ordem Terceira de São Francisco, haviam construído “um acréscimo, ou cozinha, que a dita Casa da Ordem, sem licença (...) lançou por cima da montanha, sendo isto tão proibido”. (Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1817-1827. AMS, manuscrito, fl.102v.)

[20] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.144v e fl.145r.

[21] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1775-1800. AMS, manuscrito, fl.160v.

[22] Vistoria realizada sem provocação de nenhuma parte, apenas por dever do “ofício”.

[23] Termos de Alinhamentos e Vistorias:1817-1827. AMS, manuscrito, fl.297r.

[24] APEB – Seção de Arquivo Colonial e Provincial – Presidência da Província – Tesouraria – Propriedades Urbanas (1826-1874) – Série 4651.

[25] Termos de Alinhamentos e Vistorias:1775-1800. AMS, manuscrito, fl.204v.

[26] Ao desembarcar em Salvador em 1768, o Marquês do Lavradio (D. Luis de Almeida Portugal: 1727-1790), por exemplo, na condição de Governador da Capitania da Bahia, assombrara-se com o estado da população local, registrando em documento que era composta “tudo de gentes doentes, e que havia muito tempo que já não logravam saúde” (PORTUGAL, 1972, p.118).

[27] “A teoria dos miasmas explicava o surgimento das doenças a partir da emanação do ar de regiões insalubres (a origem da palavra malária vem daí: maus ares)”. (BATTISTELA, s.d.)

[28] Termos de Alinhamentos e Vistorias: 1800-1812. AMS, manuscrito, fl.42r.

[29] Posturas: 1829-1859. AMS, manuscrito.

[30] Esta postura, por sinal, foi alterada em 1848, ampliando-as a área com restrições: “...no espaço compreendido desde Santo Antônio da Barra até o Noviciado” (Posturas: 1829 a 1859. AMS, manuscrito, fl.100r).

O Cacau Caiu 2/3 - O Motel Mustang

O motel que se foi na chuva

   Neste post, trago uma das tragédias mais lembradas de Salvador, pelas vítimas fatais e pelo Folclore existente sob e sobre os escombros, numa narração que nos remete a 1989. 

POR JACIARA SANTOS – 21 DE ABRIL DE 2010
PUBLICADO EM: COM A PALAVRA...
Com a palavra...
Valter Souza Menezes*

   Meu querido e amado pai sempre dizia que não existe coisa mais rápida no mundo do que o pensamento. Ele sempre repetia essa frase quando estávamos nas refeições familiares e lembrava de algo do passado. Pois bem. Com essas terríveis e fortes chuvas que causaram mortes e danos irreparáveis em muitas famílias no Rio de Janeiro, aqui em Salvador e em outras terras, fui buscar em fato lá nos idos do final dos anos 1980, mais precisamente em 19 de maio de 1989, quando um monte de terra correu na Avenida Suburbana e um motel foi morro abaixo. Água de chuva forte descendo morro, não tem quem segure! O destaque da imprensa está sendo primoroso para a tragédia carioca, mas colocar pessoas altamente fragilizadas, diariamente, para dar depoimentos chorando, é demais para todos…


   Bem voltemos ao fato relatado acima, no qual casais morreram quando estavam dentro do motel, pois foram atingidos fatalmente pela lama, que desceu do alto do bairro de São Caetano. Também morreram alguns funcionários do motel. Naquela época, eu era 1º Tenente da PM e trabalhava no serviço de radiopatrulhamento (RP) na área do 8º BPM, o famoso Dragão, que tinha no seu efetivo mais de um mil PM lotados. Sua área de responsabilidade era toda a Suburbana, Cidade Baixa, Comércio, Avenida San Martin, todo o lado esquerdo da BR 324 (sentido Salvador-Feira de Santana, até o viaduto do CIA) e seus bairros, além das Ilhas de Itaparica, Madre de Deus etc. Era chão!

   O 8º Batalhão era uma espécie de universidade com uma área enorme! A sede da unidade, no meu tempo, era no Quartel de São Joaquim, onde funciona hoje umas das quatro Rondesp. No primeiro estalo da estrutura do motel, chamaram a PM pelo 190. Um cabo que estava de serviço de RP na madrugada fria da Suburbana, rumou até o motel, para conhecer a situação e evacuar o local, caso fosse necessário. Já pensou que situação?…

   Não sei por quanto tempo o policial ficou dentro do estabelecimento. Ao chegar lá e iniciar os contatos com os solicitantes e usuários, o imóvel começou a cair, vindo dos fundos uma enorme massa de terra, folhas, cimentos, árvores e pedras. Uma grande cortina de contenção de cimento que segurava o morro se rompeu. O acesso atrás do motel que era a saída dos carros para a avenida, ficou tomado pela terra.

   A matéria saiu em rede nacional, já que era um fato relevante para os anos 80. Como em muitos desabamentos, era aquela velha história do lixo jogado pela encosta, água acumulada e imóveis sem estrutura construídos sem técnicas e de forma inadequada na parte alta. No livro 1808 do escritor Laurentino Gomes – por sinal, li essa parte na semana da tragédia do Rio e recomendo a todos, para conhecerem um pouco mais da história real do nosso Brasil e da família monárquica portuguesa – na sua página 236, diz sobre os grandes morros do Rio de Janeiro, que o morro “tira a elegância de vista”, impede que os ventos entrem na cidade e “conserva na sua base por muito tempo as águas que recebe das chuvas”. Se conserva água, para algum lugar, um dia, ela terá que ser lançada. Foi o que ocorreu no morro do motel, penso.

   O cabo da Briosa não morreu por sorte, pois saiu correndo pela ladeira abaixo que dava acesso à Avenida Suburbana, pulando, como um gato assustado, o muro da curva de saída do estabelecimento “amoroso”.  O seu gorro de pala azul ficou caído no mato, do local de onde ele se jogou para não morrer. Outros também fizeram o mesmo percurso com ele, na hora do perigo. Por sorte, a entrada do motel onde estava a viatura, nada sofreu. Eu que encontrei  a cobertura (gorro), ao amanhecer, dentro do mato. Estava entrando de serviço às 7h, quando encontrei o gorro azul molhado, pertencente ao cabo, cujo nome não me lembro agora, mas que estava escrito na parte interna da peça.

   O Corpo de Bombeiros começou, logo na madrugada, a tentar
socorrer os vivos e retirar os mortos. Trabalho árduo, penoso e muito cansativo para os PM do CCB (no início da minha carreira, 2tive o prazer de trabalhar no CCB por seis meses!). O problema maior estava por vir, para saber quem estava dentro dos apartamentos daquele motel, vivo ou morto. A imprensa logo veio, querendo filmar e documentar tudo, mesmo com a barreira que o Corpo de Bombeiros tinha colocado, mas nada adiantou. Era o furo da noticia trágica com mais de sete mortos! Bloquearam a Suburbana, que se chama Avenida Afrânio Peixoto – até hoje não entendo o motivo daqueles postes de iluminação no meio da via – mas a chuva não parava de maneira alguma. A lama continuava descendo.

   Outro local também desabou na Suburbana, era uma pedreira perto do Lobato. Também houve registro de mortos e feridos. Muitos danos e pessoas desabrigadas. Os PM do Dragão sempre fizeram coletas de roupas, material de higiene e limpeza para essas pessoas desabrigadas. Era uma coisa espontânea de que todos participavam.

   As pessoas se aglomeravam na porta do motel desabado, não
para saber se havia sobreviventes, mas para conhecer quem estava lá dentro dos apartamentos. Foi um suspense grande para todos! Um carro Chevrolet/Caravan, cor violeta, com cruzes nas janelas, de uma funerária da área, já estava perguntando se tinha algum familiar ali por perto. Alguém disse: “Morre o boi a bem do urubu”!

   Saí de serviço às 19h, muito molhado, mas sem saber também quem estava lá dentro, mas cheio de curiosidade, pois o pessoal da Cidade Baixa onde eu morava na época, também frequentava aquele estabelecimento. A imprensa, por sua vez, não deu os nomes. “Tragédias ocorrem em qualquer local!”

*Valter Souza Menezes é major da PM-BA, comandante da Rondesp/Atlântico e bacharel em Direito


    No deslizamento,  33 quartos do motel foram atingidos. Alguns casais conseguiram fugir, porém, 08 pessoas não tiveram a mesma sorte e morreram esmagadas por toneladas de lama e entulho.   

O Cacau Caiu 1/3 - Histórias de um passado "presente"

   Nossa Mãe, e até hoje Chove!  E novas tragedias vão acontecendo. Na verdade de novas, somente as datas, porque os eventos se repetem com uma frequência indigesta. 

   É de conhecimento popular que nossa cidade não tem estrutura para suportar fortes chuvas, ou tempos chuvosos prolongados.

   Existem documentos datados de 1700, 1800 até a atualidade, que confirmam com riqueza de detalhes que nunca estivemos preparados para tais eventualidades climáticas.  

   Deixo um trecho de um texto de Zé de Jesus Barrêto, publicado no jornal A Tarde de 16 de abril de 2010, relevante, crítico e atual. 

O cacau tá caindo!
E a cidade veio abaixo

.texto de Zédejesusbarrêto
(especial para o Jeito Baiano)

‘O cacau vai cair’, dizia o baiano nos meus tempos de infância, morador do Lobato.
O ‘cacau’, na verdade, era a pirambeira de mais de 60 metros que desce de São Caetano e bate lá em baixo à beira da linha do trem, onde, antigamente, chegava a maré dos alagados. A ribanceira, de cima a baixo, começou a ser ocupada desordenadamente pelos mais pobres desde a década de 50 e, a cada outono de chuvas, meia banda de morro descia (e desce lá e acolá)) levando casebres e ceifando vidas. Então, a expressão ‘o cacau desceu’ virou sinônimo de tempestade com desastres urbanos na nossa velha e perigosa cidade.
Conhecemos bem as chuvas de março/abril em Salvador e seus estragos. Isso é do tempo de Thomé de Souza. Piora a cada ano em virtude das construções irregulares permitidas nas encostas e baixadas, pela falta de manutenção, carência de uma campanha sistemática e contínua de limpeza pública, de cuidados com canais e bocas de lobo em ‘operações chuva’ que devem ser feitas três meses antes de as chuvas caírem etc e tal …
Tudo bem sabido por todos, mas sempre desprezado pelos ‘chefes’ de plantão de todos os matizes politiqueiros, em toda a região metropolitana (pra gente se ater às nossas proximidades e urgências).(...)

Relembre as grandes tragédias

1º de junho de 1995 Temporais causaram o deslizamento de uma encosta no Arraial do Retiro, deixando 30 mortos e cerca de 300 desabrigados.

2 de junho de 1995 Chuva repete tragédia em Caja City: naquela sexta-feira, um deslizamento de terra na invasão Sílvio Leal, em Cajazeira 6, deixou 16 mortos e mais de 70 famílias desabrigadas.

19 de maio de 1989 As fortes chuvas provocaram deslizamentos de terra em vários bairros de Salvador. Houve seis mortes no Lobato, nove na Baixa do Cacau e três em campinas de Pirajá. Uma criança morreu na invasão Paraíso (antigo Pela Porco) e duas na invasão Nova Divinéia, entre IAPI e San Martin.

21 de maio de 1989 Acidentes causados pela chuva deixaram 71 mortos. Do total, 26 foram vítimas do desabamento do Motel Mustang, na Suburbana. O bairro com o maior número de vítimas foi o Lobato (36, incluindo as 26 do Mustang), seguido por Campinas de Pirajá (12) e Canabrava (6).

Três raios no mesmo lugar

   A tragédia deste ano foi a terceira em Barro Branco, nas últimas quatro décadas. Há 19 anos, em 21 de abril de 1996, 22 pessoas morrem - 15 crianças, três mulheres e quatro homens -, após um deslizamento de terra no Morro do Morumbi, que carregou um prédio de três andares da Av. Boa Vista, no Alto do Peru. O acidente soterrou cinco casas e danificou outras 15, deixando centenas de desabrigados. A maioria das vítimas estava dormindo. A localidade, considerada há muito tempo de altíssimo risco, foi palco de outra tragédia 25 anos antes, em 1971, quando cinco pessoas morreram.

Companhia de Águas do Queimadinho - Parque do Queimadinho


   Em  1850, Salvador, com  60  mil  habitantes, carecia  de  um  sistema  de  abastecimento  de  água (BAHIA,  2003).  Resolveu-se  nesse  período,  estabelecer  um  serviço  de  canalização  pelo qual  a  província  contribuiria  com  150  contos  de  réis.  Sampaio  (2005)  relata  que  nas  casas  e nos  escritórios  a  água  era  armazenada  em  tanques,  talhas,  potes  e  moringas. O vaivém de pessoas com vasos na cabeça ou no lombo de animais era cena comum na capital da colônia. Seguiu assim até meados do século XIX. À  medida  que a  população  crescia,  a  água  diminuía,  com  isso  tornou-se  urgente  prover  a  Cidade  com  um sistema  de  abastecimento  com  fornecimento  regular  de  água. Em  1852  houve  um  incentivo para  construção  de  mais  fontes  e  chafarizes em diversas localidades. 
  

  Com isso, a antiga Companhia de Águas do Queimado teve sua criação autorizada, em 17 de junho 1852, através da Lei Provincial nº 451, que captava água de uma pequena represa e distribuía pelos chafarizes  sendo instalada na antiga Fazenda Santo Antônio do Queimado, tornando-se, a primeira empresa de distribuição de águas do Brasil.

   No início do século XX, quando a população chegava quase a 200 mil pessoas, um projeto do engenheiro Teodoro Sampaio, em 1906, criou um sistema de abastecimento em que a água chegava diretamente às casas. Era o embrião da atual Embasa. “Depois disso, à medida que o sistema se aperfeiçoava, as fontes foram sendo abandonadas”.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Dique do Tororó

ilustração de Arnoldus Montanus, de 1671
   Creditada aos holandeses, que teriam construído o dique na primeira invasão a Salvador, é contestada pelo Professor Cid Teixeira que afirma que a construção dos holandeses não foi o Dique do Tororó. “Para evitar a invasão, os “holandeses”  fecharam o rio das Tripas, a vala da cidade, na altura da que é hoje a igreja de Santana, alagando toda a região até a Barroquinha

   Esse que é o dique feito pelos “holandeses”, não é o Dique do Tororó.” Essa versão parece se confirmar no relato do livro Memórias históricas e políticas da Bahia de Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva que relata em nota que o dique fora construído por Vandorth no lado oriental da cidade na tentativa do general de aumentar as defesas da cidade represando o rio das Tripas.

   No final do post, falarei um pouco mais sobre esse Dique Neerlandês de Salvador.

   Tudo indica que a construção do dique do Tororó foi realizada pelos governos gerais entre o final do século XVII e meados do século XVIII para complementação das defesas da cidade de Salvador. A origem do nome do dique tem vem no barulho forte das águas que desciam de duas saídas do dique em direção ao norte da cidade para o Rio das Tripas, e para o sul em direção ao Rio Lucaia. Durante o período colonial, o dique do Tororó abastecia a população de salvador.

   Ainda de acordo com o professor Cid Teixeira o dique era muito maior, até o século XIX era possível a navegação desde a Concha Acústica, atravessando o Vale dos Barris até chegar à Tribuna da Bahia e ingressar no que atualmente resta do dique. Sabe-se ainda que o primitivo dique era na verdade uma ampliação do dique de defesa da cidade alta, execução essa realizada durante o governo do Vice-rei D. Vasco Fernandes César de Meneses dentro de um plano de fortificação da cidade de Salvador.

   Um projeto de urbanização da cidade realizado na segunda
metade do século XIX deu nova direção às águas dos lagos e brejos aterrando todo o alagadiço que vinha desde o Rio das tripas, passando  pela Rua da Vala, atual Baixa dos Sapateiros, ligando-se ao Dique do Tororó por onde passa hoje a Avenida Djalma Dutra. Esse aterro permitiu mesmo que precariamente o acesso ao Rio Vermelho.

Dique Neerlandês de Salvador

   Esta estrutura, com função defensiva, encontra-se relacionada por BARRETTO (1958), que reporta ter sido erguida por forças neerlandesas no contexto da primeira das Invasões holandesas do Brasil (1624-1625), para defesa complementar do limite norte de Salvador, então capital do Estado do Brasil. Para esse fim foram represadas as águas dos vales nas proximidades do Convento de São Francisco, nomeadamente as do rio das Tripas.

   Encontra-se cartografado por João Teixeira Albernaz, o velho ("Planta da Restituição da Bahia", 1631. Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro). Era defendido, no seu braço superior, pelo Fortim Camarão (BARRETTO, 1958:180).

   Com o final do conflito e o desenvolvimento urbano da cidade, esse dique deixou de existir, sendo desde então as águas canalizadas pela antiga rua da Vala, atual Baixa do Sapateiro

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Instituto Normal da Bahia - ICEIA - BARBALHO anos 30



   Em 14 de abril de 1836, a lei n° 37 criou a Escola Normal da Bahia (instalada, em 7 de outubro de 1841, no Teatro São João, localizado no Distrito da Sé no Bairro de Nazaré, embora as aulas tivessem começado a 26 de março de 1842, numa casa hoje não mais existente, da antiga rua do Colégio, esquina para a rua das Campeias).

   A maior demora para o início de funcionamento da Escola Normal deveu-se ao envio de professores à França para que fossem treinados na Escola Normal, que formava futuros professores, a fim de que pudessem aplicar aqui as mais recentes metodologias desenvolvidas neste campo. No início de fevereiro de 1841, o presidente da província informava à assembleia legislativa já terem voltado da França, com as respectivas habilitações e seus diplomas, os indivíduos que visavam ser professores da Escola Normal, mas o local para o funcionamento das aulas não estava ainda arranjado, por não ser próprio um dos salões do teatro, como havia sido anteriormente designado. 


   A Escola Normal, depois unificada, teve continuidade até os nossos dias. Embora tenha sofrido reformas e mudanças de nome. É, hoje, desde 1968, o Instituto Central de Educação Isaías Alves em homenagem ao professor e psicólogo Isaías Alves de Almeida, localizado no Barbalho. Apenas com a República é que surgirão na Bahia outras escolas - públicas no interior do estado, particulares e religiosas - voltadas à formação de professores.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Rua Direita dos Mercadores - Rua Chile


Rua Chile 1940
   Fundada em 1549 por Tomé de Souza e, inicialmente, chamada de Rua Direita dos Mercadores, a Chile também teve outros nomes como Rua Direita do Palácio, porque todo poder da cidade estava concentrado nela.

   Em 25 de julho de 1902, uma sexta feira, a Bahia recepcionou a marinha chilena, então uma das mais invejadas esquadras do mundo, com uma festa extraordinária, uma das maiores, senão a maior, que Salvador testemunhou em seus mais de 460 anos de história. O apogeu foi o desfile dos militares do país irmão pela Rua Direita do Palácio, que por decreto da Câmara Municipal, de 17/08/02, passava a ser denominada de Rua Chile em homenagem aos visitantes. 

    "(...)com suas lojas especializadas de tecidos, roupas
masculinas, do hotel Palace, onde se hospedavam artistas que vinham a Salvador para shows.(...) era um comércio fino, a exemplo das Lojas Sloper que vendia perfumes, joias, vestuários e utensílios femininos como lenços, bolsas e chapéus e também a primeira loja de departamento de Salvador, Duas Américas, que comercializava tecidos e vestidos femininos e que inovou trazendo para a cidade a primeira escada rolante. No local havia também a Livraria Civilização Brasileira."
Consuelo Pondé de Sena, historiadora, escritora e presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).




Opa,  opa...!!! Não posso finalizar este post sem falar dela: A mulher de Roxo.


   A história de Florinda Santos, a conhecida Mulher de Roxo, se transformou numa lenda urbana, uma figura mitológica conhecida por todos da localidade. Não importava se o dia era de chuva ou de sol, ela nunca faltava. Era só as portas do comércio da Rua Chile abrirem e dona Florinda já se encaminhava para a entrada da Slopper. Vestido com roupa de veludo violáceo, iniciava o ritual diário. Andava de um lado para o outro, falava sozinha e sempre pedia dinheiro. Tudo com muita educação. Afinal, dizia-se que a Mulher de Roxo, personagem dos tempos diários do centro da cidade, vinha de boa família.

   Vestida de freira, circulando livremente pela rua mais badalada de Salvador. A estranha indumentária, que incluía ainda um grande crucifixo, a transformou na Mulher de Roxo, a principal lenda urbana da capital. Foi assim que Florinda, a mendiga que jurava ser rica, passou a ser a personagem lendária, surgida, do nada, em frente à loja Sloper, nos anos 60 do século XX, em Salvador. Quando se enfeitava, com maquiagem forte no rosto e nos lábios, ela usava o espelho retrovisor dos automóveis estacionados. Como sanitário, servia-lhe qualquer território mais calmo. A Rua Chile era sua verdadeira casa, seu mundo, seu reinado. A intimidade com a rua era tão grande que ela sempre andava descalça. Na fachada da loja Sloper, localizava-se o seu trono de sarjeta. Na Rua Chile, chegava sempre muito cedo, circulava pelo centro e só recolhia o seu saco preto ao meio-dia, quando almoçava. Ao final do dia, voltava, andando, ao albergue noturno da prefeitura, situado na Baixa dos Sapateiros.

   Veio a falecer em 1997, depois de ser acolhida por Irmã Dulce.
 
   

Hotel Sul-americano - Edifício Sulacap

  
  De suas sacadas, o olhar encontra o mar, a festa, a poesia. O azul da Baía de Todos os Santos mistura-se ao multicolorido Carnaval baiano na Avenida Sete de Setembro, na Praça do Povo, de Castro Alves. Lá, de frente para o poeta, está ele. Imponente. Na esquina de grandes momentos, encontros, o Edifício Sulacap escreve 69 anos de história entre as páginas da arquitetura modernista baiana.

Ladeira de São Bento e na esquina o antigo Hotel
   No início da Ld. São Bento, está o Hotel Sul-Americano, onde foi inaugurado, em 1946, o Edifício Sulacap.
Demolição do Hotel Sul-americano

    O tempo passa, mas não ofusca o brilho do prédio referência no Centro da cidade, que agora é também patrimônio artístico e cultural. Tombamento sancionado, proteção à estrutura do prédio. Em sete andares, 121 salas e quatro lojas externas. No térreo, um jardim dá as boas-vindas, iluminado por raios solares que penetram a claraboia e marcam, ainda, as paredes da edificação.

domingo, 10 de maio de 2015

Shopping Iguatemi (Shopping da Bahia)


Inaugurado em 1975 como Iguatemi, sendo assim o segundo shopping do Brasil, pelo empresário Newton Rique, o Shopping da Bahia fortaleceu a tendência dos shoppings como os grandes centros de compras como organizador do espaço urbano das cidades no Brasil, agindo assim como um dos maiores transformadores da paisagem urbana de Salvador.

Aterrar a lagoa foi o maior desafio dos engenheiros que projetaram e construiram o Shopping Iguatemi, segundo conta Zeca, operário de primeira hora que foi trabalhar na obra logo depois que terminou o seu serviço na construção da Estação Rodoviária.
Terra planagem 1973
Zeca: "foi dificil aterrar. Você sabe
Incêndio durante a construção
 que a agua é poderosa, resiste a tudo. O lençol freático deste lado era muito alto. Quando chovia o lençol aflorava e tudo virava lama. Por isso que os operários trabalhavam com a roupa de baixo. Isso aqui era uma lagoa”.

A obra do Iguatemi demorou dois anos para ser concluida e segundo conta Zeca pelo menos quatro meses foram necessários para o aterro de fato se concretizar.
Ao fundo o Terminal Rodoviário Armando Viana de Castro
O terreno adquirido por Newton Rique pertencia a Alfredo Saad que então tinha em mente alí construir o estádio do Esporte Clube Bahia, um projeto que nunca saiu do papel. O local era distante do centro da cidade, não tinha linhas de ônibus, os operários compareciam ao trabalho em veículos fretados e alguns deles em lombo de burro. O lugar era ermo, mas Newton Rique acreditou no potencial econômico da região que já tinha projetos para a construção da Estação Rodoviária, um bairro residêncial (Caminho das Árvores) e ainda a nova sede do jornal A Tarde.

Os bairros do entorno se modernizaram e avenidas de trânsito intenso e grandes centros empresariais foram construídos nas proximidades. Cerca de mil operários e oito engenheiros trabalharam na construção do shopping, que demorou 16 meses para ficar pronto.

Entre tantas inovações, o Shopping da Bahia trouxe o primeiro cinema em shopping da Bahia e a primeira área de fast-food, e foi o primeiro a funcionar aos domingos. Na moda, colocou Salvador no calendário nacional através dedesfiles que deram origem à Semana Iguatemi de Moda (SIM). Em 1998 foi inaugurado o maior complexo de cinemas da América Latina da época, o Multiplex UCI com 12 salas.


Em 8 de dezembro de 2014, prestes a completar 40 anos de história, o Iguatemi Salvador passa a se chamar "Shopping da Bahia", assumindo o seu antigo slogan como marca oficial. Segundo a empresa que administra o shopping, tal mudança se deu para homenagear o estado da Bahia e também pelo fato da companhia ter que desembolsar R$20.000,00 anuais para manter direitos sobre a marca "Iguatemi" que pertence à outra administradora de shopping centers (ao Grupo Iguatemi).

Referência:
www.gorila.dreamhosters.com                www.wikipedia.com
www.ibahia.com