quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Pegando um baba 1/3 - Stadium Artur Morais ( Campo da Graça)




"O lindo pavilhão da arquibancada, como um enorme jardim aéreo, mostrava no encanto de suas flores, a graça e a formosura, tocadas pelo entusiasmo da torcida, ativando com seus perfumes a alma… Senti-me vacilar, na incerteza de que estava num campo de esporte ou em um salão de baile”.
Revista Semana Esportiva 1920

O Campo da Graça tornou-se palco dos grandes acontecimentos da cidade como os exercícios de ginástica sueca praticados pelo corpo da Brigada Militar durantes as comemorações do Centenário da Independência; apresentações de bandas e fanfarras, espetáculos circenses e outras manifestações. O público frequentava o espaço, trajado a rigor, exibindo elegância, as mulheres com seus melhores figurinos e jóias.

Era o ano de 1919 e o estádio seria inaugurado em novembro do ano seguinte, construido em frente ao Café Rio Branco, entre as ruas Catharina Paraguassu e Humberto de Campos com acesso pela Avenida Euclides da Cunha. Localização estratégica, próxima da sede dos clubes da elite baiana: Bahiano de Tênis e Associação Atlética da Bahia que tinham constituído uma entidade aparte e estavam afastados do campeonato oficial. As elites aceitavam a popularização do esporte, mas a contrapartida era um campo com melhor infraestrutura.

Idealizadores

Inicialmente, os jogos de futebol eram realizados no Rio Vermelho onde existia também um hipódromo. O local era particular e a então Liga pagava uma determinada importância para a realização de seus jogos. Também se faziam jogos no Campo da Pólvora.

Nesse ínterim, um grupo de abnegados, tendo a frente o eng. Arthur Morais, ex-zagueiro do Esporte Clube Vitória e então dirigente esportivo, comprou um terreno na Graça com o objetivo de construir um estádio. Esse terreno pertencia à família Rêgo. Em 15 de novembro de 1920 o Estádio da Graça era inaugurado com a presença do então governador José Joaquim Seabra. Quando Arthur Morais faleceu, em sua homenagem, o estádio passou a chamar-se Estádio Arthur Morais.Praticamente, todos os assentos eram de madeira na parte da geral, como as arquibancadas de um circo. Na parte mais nobre, fizeram uma arquibancada em dois andares, ainda em madeira e com cobertura de folhas de zinco. Algo bem mais sofisticado! Apesar do material, ao que se sabe, nunca ocorreu nenhum desabamento no velho Campo da Graça. A madeira deveria ser de lei!

Anos de ouro

Durante três décadas o Estádio da Graça, antes denominado de “Stadium” e “Campo” foi o cenário de grandes jogos organizados pela Liga Baiana de Futebol e Federação Baiana de Futebol, inclusive “matchs” com times de outros estados e outros países e a presença ilustre de visitantes, autoridades do Brasil e do mundo.

Cenário também do primeiro BaVi, do primeiro título conquistado pelo Esporte Clube Bahia em 1931 e de muitos outros conquistados pelo Esporte Clube Vitória, Galicia, Ipiranga, Botafogo, dentre outros.

Nele também se exibiu a Seleção Brasileira em 1934 contra o Bahia, derrotando-o por 8x1, gols de Leônidas(4), Átila(2) e Carvalho Leite(2) para a seleção brasileira. Não se sabe quem fez o gol do Bahia.

A Bahia ficou de fora do mundial por falta de estádio pronto

No tempo em que a única forma de chegar à Graça era de bonde, havia a esperança de que Salvador fosse uma das cidades-sede daquele Mundial. Acanhado, o Stadium Artur Morais, nome oficial do campinho, carecia de reforma. “Deste amontoado de zincos e arquibancadas desengonçadas surgirá um estádio à altura do progresso da nossa capital(...) A nossa futura praça de esportes poderá servir de teatro para a disputa do Campeonato do Mundo”, confiava a revista.

A reforma foi projetada, plantas da nova estrutura publicadas em jornais da época. A Revista Rádio Esportes estampava o governador Octávio Mangabeira no lançamento da pedra fundamental, em pleno 2 de julho. Não saiu do papel. Segundo o pesquisador Mário José Gomes, 74 anos, foram dois os principais motivos que impediram o projeto de ir adiante. Primeiro: em uma primeira vistoria, o Campo da Graça não passou pelo crivo da Fifa. “Sequer as dimensões do campo eram oficiais. O Campo da Graça tinha menos que os 90 metros mínimos de comprimento. E naquela época já existia o padrão Fifa”, afirma Gomes. A outra questão era o lugar nobre em que ele ficava. “Os moradores da Graça, bairro de elite, protestaram. Eles não queriam a ampliação”.

Só havia outra possibilidade. Em 1939, o estado havia desapropriado uma área na Fonte Nova. Na verdade, antes mesmo da ideia da reforma da Graça, desde o início dos anos 40, já existia um projeto ousado para aquela região: a construção de uma grandiosa praça esportiva. Segundo o engenheiro Paulo Segundo da Costa, autor de biografia sobre Octávio Mangabeira, o então interventor Landulfo Alves chegou a determinar que a Secretaria de Viação e Obras Públicas fizesse o projeto.


A tarefa coube ao escritório do engenheiro Mario Leal Ferreira, que incumbiu o arquiteto Diógenes Rebouças de elaborar o plano. Com a destituição de Landulfo Alves pelo presidente Getúlio Vargas, o projeto original jamais sairia do papel. “Faltaram recursos e o novo interventor não levou a coisa pra frente”, conta Paulo Segundo, na época estudante de Engenharia. Com a eleição de Mangabeira, em 1946, voltou-se a cogitar a construção.

Apito final


Em 1951 o Estádio da Graça perdeu a sua finalidade, substituido pelo recêm construido Estádio da Fonte Nova, mais confortável e com maior capacidade de público. Prevalecia as ideias de um novo tempo em que o futebol já era concebido como um esporte de massa, paixão de multidões.

O Campo da Graça resistiu bravamente às investidas das construtoras até 1970 quando então seu espaço foi vendido e no local se construíram quatro grandes prédios.

Referências
http://www.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2012/11/12/o-estadio-da-graca-campo-de-grandes-torneios-e-palco-dos-grandes-acontecimentos-da-cidade/
http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/em-1950-a-bahia-ficou-de-fora-do-mundial-por-falta-de-estadio-pronto/?cHash=e7e276274af6e7a1d6f00852e579194c
http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com.br/2011/04/destaques-da-graca-campo-de-futebol-da.html

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